O rock and roll sexy sem ser vulgar do Threesome

O rosto da vocalista Juh Leidl em destaque, com o microfone na mão
Foto: Mauro Soares

Surgido em 2012, o Threesome fez sua estreia fonográfica em 2014, com o robusto Get Naked. Agora, três anos depois, veio o EP Keep On Naked. Alguns aspectos rodeiam esse material, o principal deles chama-se evolução.

O quinteto de Campinas (SP) trabalhou direitinho suas qualidades e aparou arestas necessárias. O resultado surgiu na forma de um repertório com três faixas, sendo duas regravações de canções do debute. 

O novo EP do Threesome: Keep On Naked
Reprodução
Every Real Woman reapareceu como ERW e Why Are You So Angry?, agora é Sweet Anger (um título mais forte e digno da repaginada – confira o lyric video ao final da entrevista). De inédita temos My Eyes, um belo conjunto letra/parede sonora, cuja levada carrega um apreço por Jimi Hendrix.

Juh Leidl (vocal), Fred Leidl (guitarra, piano, vocal), Bruno Manfrinato (guitarra), Bob Rocha (baixo) e Henrique Matos (bateria) ajustaram a pegada e emendaram a safra atual no EP. Mais que o ar remetendo à sensualidade, à sexualidade (a começar pelo nome do grupo) e ao erotismo, o Threesome produz um rock de punch, de riffs, visceral. Quem conta mais a seguir é a vocalista.
 
O rock anda tão careta que até perdeu muito do tesão, da libido que sempre teve?
O que tenho acompanhado das bandas na Europa, principalmente, e algumas nos EUA é um movimento monstro de novidades excelentes. Costumo ouvir bastante o que me sugerem. Na maioria das vezes, acabo me perdendo, pois tem coisa boa lá fora que mal consigo absorver. Esse é um ponto. Quando falamos de Brasil, poucos nomes mais pop de "rock", com um som mais palatável e nada agressivo, conseguem certo vislumbre – só que bem dentro da caixinha e tímido. E morre rápido. 

As rádios rock tocam, em 90% do tempo, os clássicos. Há um ou outro programa de rock autoral com caras novas. Os bares, que também poderiam fomentar a cena, apostam no cover. A coisa anda tão esquisita que vemos o que chamam de "tributo" a um artista (às vezes ainda vivo) fazendo shows por aqui em teatros, com a galera lotando. Pagam caro para ver o que, resumindo, ainda é cover. Aí, nos resta pensar: o rock acabou, o Brasil não tem banda boa.

O público de rock no país está matando o estilo ainda no berço. Não procura, não tem paciência para ouvir algo de que não saiba o refrão, e só curte nomes e músicas consagradas. Há, teoricamente, uma demanda por rock, mas aí você vê gente da década de 1980 voltando a tocar seus grandes sucessos. Outra vez, o olhar totalmente no passado. Então, fica a pergunta: o rock anda careta ou simplesmente não estamos conseguindo encontrar os que produzem coisas boas por aqui?
 
No começo, achava o viés sexual de vocês uma forma de encurtar o caminho para um público maior. Mas já deu para sacar a função desse apelo dentro de sua expressão. O que os fez optar por esse direcionamento?
Gostamos de rock, gostamos de sexo. Rock and roll + sexo pode parecer tão batido, mas até hoje temos tabus sobre vários aspectos do sexo. E estes acontecem por preconceito, insegurança, medo, crenças, questões sociais e culturais. Faltam, muitas vezes, leveza, diálogo, liberdade, respeito e confiança com o outro. Isso inclui falar com tranquilidade sobre sexo. Sem rigidez! 

A banda não tem apenas músicas sobre esse tema, mas é claro que essas questões mais "ácidas", como casamento aberto ou bissexualismo, são pontos interessantes para se estimular a reflexão. Isso, para nós, é o que realmente interessa. Não queremos ser engajados apenas num determinado formato ou numa ideia. Porém, queremos levantar a bandeira do respeito e da liberdade! É algo que buscamos para a vida e acabamos colocando nas músicas.
 
Diria que o Threesome faz uma ponte entre o hard rock e o rock clássico dos anos 1970 com o pós-punk oitentista. Como é que se entendem na hora de dialogar com as influências de cada um? 
Realmente acho que as influências estão escancaradas [risos]. Na verdade, não sei se foi sorte ou a banda virou "banda" justamente porque o background dos integrantes é bem parecido. Somos ecléticos e temos mais ou menos a mesma faixa etária. Logo, vivenciamos os sons desses períodos. Somos um produto de tudo de bom do que ouvimos e do que escutamos hoje em dia. 

Muitas vezes, as linhas, os arranjos ou a puxada de determinado vocal nem são conscientes. Depois de um tempo notamos que tal acorde parece bastante com tal coisa. Mas a arte tem a ver com a experiência do artista: o que escutou, escuta, leu, lê, assistiu, assiste, ouviu, ouve, enfim VIVE!

Somos fãs incondicionais de diversas bandas desses períodos, então fica muito fácil compor. Transitamos pelas mesmas linguagens com tranquilidade, e o que é gosto pessoal ajuda a enriquecer o trabalho. Criar junto é sempre um prazer. Estamos constantemente crescendo como pessoas e artistas com essa comunhão sonora.
 
Vocês pensam no mercado que têm pela frente, o cenário no Brasil e no exterior, ou vão simplesmente seguindo adiante?
Quando começamos, justamente por nossas influências no rock, hard, metal, punk e progressive, foi natural escrever em inglês. Soava dentro do que buscávamos. Eu e o Fred Leidl gostamos bastante de Secos e Molhados, Mutantes, Titãs, entre outros, e compor em inglês não foi programado. Isso, por um lado, atrapalha no mercado brasileiro. É bem mais fácil ganhar público cantando o que a maioria consegue entender e cantar rapidamente. Porém, em inglês, a música fica mais universal. 

A Europa ainda é um celeiro de novidades excelentes fazendo e lotando shows. A regra por lá são as bandas autorias, e não o contrário, como aqui. Lá fora a cena é movimentada, mas a ideia nunca foi fazer arte para vender, e sim arte para ser. Temos a necessidade de produzir música para nossa existência, antes de qualquer coisa, e o inglês foi nossa linguagem natural.

:::: Ouça o novo EP do Threesome, Keep on Naked:
Confira a seguir o lyric video de Sweet Anger.

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